30.08.2017

Darcy Luzzatto

Pinto Bandeira (RS) 15/08/2017

Darcy Loss Luzzatto é o homem do Talian. Aquela mistura de dialeto vêneto, lombardo, trentino, com um pouco de português “venetizado” que é falado na Serra Gaúcha, aquela região que abrange Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Garibaldi, no coração do Rio Grande do Sul, e em algumas regiões de Santa Catarina. A imigração italiana chegou àquelas colinas do sul brasileiro, naquele tempo cobertas somente pela Mata Atlântica, no final do XIX século, de 1875 em diante. A Itália fora unificada havia apenas quatro ou cinco anos e era um amontoado de falares distintos: a cada 50 quilômetros, as pessoas da península confabulavam em um dialeto diferente! Os colonos italianos, enviados ao interior do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, provinham especialmente das regiões no entorno de Veneza, dos campos de Treviso, Pádua, Belluno, das vilas do norte da alta Lombardia (Bérgamo, Bréscia) e dos Alpes do Trentino. Não falavam o italiano. No Brasil, tendo-se misturado entre si sem nenhuma divisão territorial, criaram com o tempo uma verdadeira língua comum, uma koinè diálektos, um nheengatu do sul em lugar do norte amazônico, que incluía termos dos vários dialetos transplantados para aquela região brasileira, com mais uma pitada de português filtrado por aquelas linguagens itálicas.

Assim nasceu o Talian, que no final de 2014, com o Guarani e o Asurini do Tocantins, esteve entre as primeiras línguas reconhecidas como referência cultural brasileira pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Isto porque existem vilas do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (mais alguns lugarejos do Espírito Santo) nos quais o Talian é língua praticamente co-oficial: ou seja, naqueles lugares e para aquelas populações tem a mesma importância da língua portuguesa. Por lei, uma língua brasileira passa a fazer parte do Inventário Nacional da Diversidade Linguística (Indl) quando é falada continuamente no território nacional por pelo menos três gerações, há cerca de 75 anos. É o caso do Talian que no final foi valorizado como sendo “aspecto relevante do patrimônio cultural brasileiro”. E Darcy Loss Luzzatto escreveu o único dicionário Talian-Português que existe no mercado!

“Na realidade existe outro, do polonês Alberto Vitor Stawinski, com o título de Dicionário Vêneto-Português-Italiano, que porém não se refere ao Talian real”, esclarece Darcy Luzzatto, que hoje tem 82 anos. “Como nasceu o termo Talian? No ano de 1978 me reuni em Porto Alegre com os máximos expoentes desta língua vernácula: o frei franciscano Rovílio Costa, o arquiteto Júlio Posenato e eu. Tentávamos dar uniformidade à grafia. A pronúncia e as palavras são diferentes, por exemplo, para um bergamasco ou um natural de Belluno, mas no momento de escrever é preciso escrever da mesma maneira. E nos perguntamos: que nome vamos dar a esta lingua? Rovilio dizia Vêneto Riograndense, já eu gostava mais de Vêneto Brasileiro, e Posenato preferia Talian. Decidimos que dali a três meses faríamos uma nova reunião expressamente para escolher o nome que seria dado à nossa língua. Em Farroupilha estava sendo homenageado o Padre Oscar Bertholdo, um sacerdote poeta que escreveu nada menos que 12 livros de poemas, e que anos mais tarde, em 1991, seria barbaramente assassinado durante um roubo. Eu estava esperando na porta da prefeitura porque tinha sido o primeiro a chegar. Só havia uma velhinha perto de mim. Então eu perguntei: nona, me capiu se ve parlo in Veneto? No caro, perdoname: forse se me parli in Talian. (vovô, me entende se eu falar Veneto? Não, caro, me perdoe: talvez se falar comigo em Talian). A voz do povo é a voz de Deus! Telefonei imediatamente a Júlio e disse que ele tinha realmente razão: que era Talian! E assim foi”.

Darcy é um expert de Talian desde os tempos em que andava por toda aquela vasta região com o tio tropeiro que o levava consigo durante as férias escolares. “Eu tinha 11 ou 12 anos. Rodávamos em um carro puxado por oito mulas. Acompanhei as andanças do meu tio durante anos. Ninguém como eu tem uma familiaridade tão completa com as palavras e as expressões de todos os descendentes da emigração italiana. Utilizei estes conhecimentos ao redigir o meu dicionário, que comecei a
escrever em Porto Alegre, onde trabalhava como editor, em 1997. Terminei sete anos depois: estou muito satisfeito com o resultado final!”.

Darcy Luzzatto nasceu em Pinto Bandeira, no Rio Grande do Sul, em 27 de outubro de 1934. Quando tinha 12 anos foi estudar em Bento Gonçalves, e até os 17 em Farroupilha, que até o ano do seu nascimento era chamada de Nova Vicenza. Em seguida chegou a Porto Alegre onde se formou em Matemática e Física. Trabalhou como professor por muitos anos, escrevendo tratados de Física.
Com aqueles livros entrou no mundo da literatura que o levou, depois da fase de ensino, a tornar-se editor de livros escolares para o liceu e a universidade. Por quatro anos foi editor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “Minha vocação pelos livros deriva do meu avô, Cristoforo Luzzatto. O vecio Toffolo (o velho Toffolo) era uma pessoa culta, que sabia falar o bellorat (o dialeto vêneto de Belluno), o italiano, o francês, e que, de acordo com quanto dizia um velho padre em Pinto Bandeira, sabia muito mais latim do que ele. Falava fluentemente o italiano. Ninguém sabia falar italiano naqueles anos. Na vila só havia três pessoas que tinham conhecimento da língua de Dante: o velho Arpini, Pecoraro e Luzzatto. Todos tinham estudado na Itália. Isto quando quase todos os outros eram analfabetos e falavam o dialeto de origem. Meu avô sentiu-se muito mal no começo ao ver-se, ele tão culto, no meio de toda esta ignorância”. O avô Cristoforo foi a pessoa que mais influenciou Darcy em sua vida. Natural de Mel, um vilarejo ao longo do rio Piave, na província de Belluno, nasceu em 1869; era de família de posses, provavelmente judea. Poderia ter feito carreira na Itália. Mas o seu cunhado, casado com sua irmã Marina (tinha outro irmão chamado Bepi), o tinha enganado escrevendo coisas fascinantes do Brasil, onde havia chegado alguns anos antes. Tinha mandado uma carta dando a certeza que ele, que falava diversas línguas, ganharia dinheiro aos montes no Brasil daqueles tempos. Ele fora enganado. Ele chegou na Serra Gaúcha poucos anos mais tarde, em 1890 e logo se arrependeu. Mas era muito difícil voltar. E não voltou. “O primeiro lugar em que pararam foi Caravaggio, onde já naquele tempo havia o santuário da Madonna de Caravaggio, que na Itália está nas vizinhanças de Bergamo. Começou a trabalhar dando aula, mas em italiano. Depois veio para Pinto Bandeira onde trabalhava como escrivão. Para ele tinha sido fácil falar e escrever em português: eu digo sempre que quem fala somente uma língua é pouco mais que um mudo. Com “nonna” Virginia tiveram nove filhos. E aquela de minha avó é uma história ainda mais incrível!”

Ela era de Feltre, sempre perto de Belluno, mas já na montanha. Chamava-se Virginia, mas sempre quis ser chamada de Emilia. E ninguém sabe absolutamente o porquê. “A história dela é estranha, interessantíssima, digna de filme, de telenovela… Mas muito triste. A mãe dela havia casado com um homem que teve que partir para a guerra logo após o casamento. Era o ano de 1866 e havia furiosas batalhas entre a Áustria, à qual na época pertencia o Véneto, e a Prússia. Ele não voltou. Depois de três anos minha bisavô foi pedir conselhos ao pároco e ao prefeito. Eles responderam que o marido dela, presumivelmente, estava morto, e que ela fizesse o que bem quisesse. Então ela casou com o irmão do primeiro marido e pôs no mundo uma “toseta” (menina), a avó Teresa Virginia. Mas quando aquela recém-nascida tinha menos de um ano, o primeiro marido voltou. Qual é o matrimonio que vale? Foram todos a Belluno para falar com o prefeito e com o bispo, os quais por fim sentenciaram que o primeiro matrimonio era aquele válido. O meu bisavô teve de ir embora e dele nunca mais se soube nada. A minha bis-avó voltou com o primeiro marido que imediatamente levou Virginia no orfanato, colocando-a na roda “delli esposti”, deixando-a com as freiras. Viveu assim, quase em clausura, abandonada por sua família, durante toda sua infância e adolescência, até casar com nonno Cristoforo. Quando, ainda menino, perguntei à minha mãe porque a “nonna” era sempre tão má. “Se soubesses da vida dela, serias mau tu também!” Foi sua resposta. Sempre se fez chamar Emília mesmo que todos soubessem que seu verdadeiro nome era Virginia. Quem sabe? Talvez para cancelar algo de seu passado. Um verdadeiro mistério!”.

O avô Cristoforo tinha origens hebraicas. Darcy descobriu isso alguns dias depois da morte dele, quando monsenhor Luis Vitor Sartori o levou até a sacristia em Caravaggio e mostrou uma carta escrita pelo avô. Na carta tinha toda a história de sua família. Os Luzzatto derivam seu nome da Lusatia, que em latim indica a terra, agora dividida entre Alemanha e Polônia, nos confins da Tchecoslováquia. Eram judeus e tinham começado a fugir em direção ao sul desde os tempos da Peste Negra de 1348. Os hebreus não adoeciam como os outros, sobretudo por sua observância religiosa a respeito de alimentos, kosher, que proibia comer carne de porco. Quem eram os culpados por aquela epidemia monstruosa? Aqueles que não morriam: portanto os “odiados” judeus! Depois de séculos de migração forçada tinham chegado no norte da Itália. Algum Luzzatto havia casado com alguma cristã e tinha renegado o credo judaico. “Em Conegliano há um cemitério hebraico atrás do antigo palácio Sarcinelli. Perguntei se havia algum Luzzatto ali e me indicaram um emblema nos túmulos, com um  galo que com a pata direita segura um feixe de trigo e apresenta uma estrela de cinco pontas sobre a cabeça. Aqueles são Luzzatto. Estava escrito todo em sanscrito e eu não entendia nada. Encontrei várias com o mesmo símbolo. Revelei a minha tia a novidade que somos judeus. Ela mandou que eu parasse de contar lorotas, que o avô Cristoforo assistia missa todos os domingos… Mas respondi que se ele frequentava a igreja, seus antepassados frequentavam a sinagoga. Amos Luzzatto, nascido em 1928 e creio ainda vivo, era um professor de Veneza que encontrei numa de minhas viagens. Foi presidente das comunidades israelitas na Itália. Muitos judeus de Porto Alegre foram a uma conferência que ele apresentou anos atrás no Rio de Janeiro. Quando voltaram diziam que tinham ido assistir a palestra de um meu parente!”.

O pai de Darcy chamava-se Antonio e era o filho do meio de Cristoforo e Virginia/Emilia. Nasceu em Caravaggio. Em sua breve vida fez de tudo um pouco: desde comerciante de cavalos e mulas até fabricante de linguiças, de vinicultor a dono de hotel. Morreu com 43 anos porque naquele tempo ninguém sabia quanto mal era provocado pelo meta-bissulfito de sódio que grudava como uma crosta na madeira das barricas de vinho. “Meu pai entrava dentro dos tonéis sem nenhuma proteção. Com uma enxadinha arrancava as lascas de meta-bissulfito para revendê-las. Morreram todos de hepatite sem saber porque. Respiravam aquela poeira e, em lugar de colocar uma mascara diante da boca, fumavam um charuto, o que era ainda pior. Ele tinha feito uma pequena enxada e teria me levado nas barricas sem saber que faria o meu mal. Mas morreu antes”. A mãe dele, Ester Loss, nasceu em Bento Gonçalves. Loss por parte de pai e de mãe. Porque em Caoria, vila de Canal San Bovo, no vale trentino de Primiero, de onde se originam os avós de Darcy, casavam-se também entre primos.

“Lembro que em 1978, quando fui pela primeira vez à Itália, era um domingo e em Caoria todos estavam na pequena igreja. Perguntei a um padre se na aldeia havia pessoas da família Loss. Ele respondeu que todos eram Loss e perguntou se eu conhecia o apelido do meu avô. Eu sabia: Remesor. Todos acabados! O sacerdote disse que não havia mais nenhum Remesor, como também não havia mais Losset, apelido dos Loss de minha avó. O “nonno Loss gh’avea gli schei”, tinha dinheiro, e tinha em Bento duas serrarias com dois moinhos movidos por água. Quando nasci morávamos em Pinto Bandeira que naquele tempo se chamava Nova Pompei. Aqui, onde vivo novamente agora, tem o santuário da Madonna do Rosário de Pompei. Mas no Estado Novo, durante a ditadura Getúlio Vargas, tinham sido proibidos os nomes estrangeiros. Então o substituíram por Pinto Bandeira. Quem era este cara? Uma personagem que não tinha nada a ver conosco. Rafael Pinto Bandeira foi no XVIII século um coronel do exército português que fazia guerra no sul do Brasil sempre que os uruguaios se adentravam no Rio Grande do Sul. Nunca veio até aqui. Não tem nada a ver com esta cidadezinha. Chamamos a nossa cidade de Pinta e os “pintaroi” são seus habitantes. Era um termo negativo que agora tornou-se positivo e nós o curtimos. Como o vocábulo “gaúcho” que na origem era sinônimo de ladrão, assaltante de estrada, delinquente… Depois, com o passar do tempo, quando os gaúchos ajudaram o governo central a rechaçar aqueles que falavam espanhol, tornaram-se respeitáveis e importantes, e hoje todos tem orgulho de ser gaúchos. Mas eu digo sempre: olhem para trás!!!!”.

Darcy Luzzatto, compleição forte e olhos repletos de simpatia, conta uma pequena história que está na origem de sua paixão pela língua Talian. “Parece-me estar vendo tudo como então. Minha mãe na cozinha do hotel, a minha irmã mais velha lavando a louça. Meu pai tinha morrido há pouco. Eu tinha 10 anos. Cuidava daqueles que bebiam alguma coisa no restaurante e no bar. Era o ano de 1944. Havia pessoas que jogavam cartas, e três ou quatro pessoas em pé ao redor, olhando o jogo. De repente entrou um homem bonito, não muito alto mas com uma compleição forte e um jeito decidido, todo vestido de preto, com as botas pretas, e com uma camisa branca, sem gravata mas com um broche de ouro no pescoço. Sentou-se tranquilamente olhando em volta. Era a época da Segunda Guerra Mundial: o Brasil era contrário ao Eixo e falar Talian era proibido. Era visível que as pessoas presentes suscitaram sua completa confiança e ele me disse: “ceo, dame un cichet de cachaça!” Uma pessoa que estava assistindo ao jogo saiu de fininho e voltou logo depois com um comissário de polícia de nome Fernando Fernandes. Ele prendeu o homem, jogou-o para fora e o fechou no porão da prefeitura que servia de prisão porque, naqueles tempos benditos, a prisão não era necessária. Se ele quisesse, poderia ter rachado ao meio tanto o policial quanto o espião, que era de Bérgamo e tinha apelido de “Magro” pelo físico minúsculo que tinha. Mas naquele tempo havia outro respeito pela lei. Eu o olhava pela janela do hotel enquanto ele andava para cá e para lá naquela prisão fajuta. Ele não tinha feito nada. Estava trancado lá somente porque não podia falar em sua língua na sua terra. Foi uma coisa impressionante que no início da adolescência me marcou muito. No dia seguinte saiu, montou no cavalo e antes de partir disse: avisem o Magro que se passar na frente de minha casa é um homem morto! Por 50 anos o Magro, até sua morte, nunca mais passou por lá, tão grande era o medo que o homem tinha deixado nele. Esta é a história de como era perigoso falar Talian naquela época. Aquele fato foi a mola originária para me fazer escrever e para procurar reviver a nossa língua. Para mim, foi o começo de tudo!”.

Darcy casou pela primeira vez muito jovem. Ele diz que errou, porque não sabiam viver juntos. Ela era alemã. “Corri o risco de me tornar alcoólatra. Quando você está em crise não sabe com quem falar, não está bem: e “alora t’inciuchi” (e então se embebeda). Mais tarde felizmente chegou Elisa que deu novo sabor à minha vida. Temos dois filhos, Antonio, jornalista, e Carolina que foi estudar na Alemanha onde casou. Tenho dois netinhos: Maximilian e Carlota, um toca trompa e ela o trombone a coulisse”. Os dois netos alemães de Darcy aprenderam a ler e escrever primeiro em Frankische, o dialeto alemão da região em que vivem, do “Deutsch”, como os cimbros e os ladinos que agora aprendem primeiro a língua deles antes do italiano. De acordo com Luzzatto deveria ser assim também aqui, nestas magníficas colinas brasileiras de selvas e vinhedos. Durante as celebrações dos 100 anos da emigração italiana, em 1975, o então vice-diretor da Universidade de Caxias, Mario Gardelin, disse: Luzzatto, você fala bem o Talian, deveria também escrevê-lo. “Quando voltei para casa contei para Elisa e comecei a pensar. Aqui nasceu o primeiro livro em Talian e desde então não parei mais. Se voltássemos 50 anos, todos falavam Talian. Todos, todos mesmo! As professoras brasileiras exigiam o Português e diziam que a nossa fala era típica de estúpidos e ignorantes. Os velhos nunca haviam falado da Itália conosco. Nós não sabíamos da importância de Veneza no mundo, uma cidade fantástica com uma história excepcional! Se tivéssemos sabido, poderíamos ter respondido àquelas professoras que quando o Portugal ainda não existia, não havia nenhuma língua portuguesa, em Veneza já falávamos o Veneziano, e falava-se Veneziano em todo o Adriático, nas ilhas do Mediterraneo oriental, até no Mar Negro. Mas nunca nos disseram nada sobre isto: até mesmo meu avô que era uma pessoa culta e inteligente”.

Frei Rovílio Costa, um santo de acordo com Luzzatto, costumava dizer “tute le lengue xè bele, ma la più bela de tute xè quel ca g’avemo ciuccià ne tette da mama!” (todas as línguas são belas, mas a mais bela de todas é aquela que nos mamamos nas tetas da mãe). A língua materna é a língua do sentimento. “A raiva e as carícias chegam sempre em Talian”, conclui Luzzatto, preparando uma “fortaia” (omelete) deliciosa em sua casa de Pinto Bandeira. “A língua está dentro de nós e manifesta-se sem querer. Realmente não consigo escrever poesias em Português. Já em Talian… Certa ocasião eu estava em Murano, a ilha do vidro na laguna de Veneza.… Um artesão que me ouviu falando comentou que em geral ele me entendia, apesar do fato que eu falava uma mistura de palavras trentinas, de Belluno, de Treviso, e outras que ele não conseguia entender. Por fim ele perguntou se eu era de Trieste. Respondi que ele nunca iria adivinhar de onde eu vinha. Não, não sou friulano, trentino, alto-atesino, lombardo, ou de qualquer zona perdida no Vêneto. Eu sou do Rio Grande do Sul, no Brasil, uma terra a mais de 12 horas de avião daqui, onde o Vêneto que se chama Talian, depois de anos de sofridas perseguições, agora tornou-se uma língua oficial brasileira: e mais considerada que na Itália!”