Marina Colasanti é uma escritora bem-sucedida, ganhadora de muitos prêmios, como o Jabutí. É uma experiente jornalista e uma artista apaixonada: não somente por ter se formado em Belas Artes. Foi até mesmo publicitária, e nos anos de sua primeira juventude (a segunda dura até hoje quando está prestes a completar 80 anos) foi uma corajosa mergulhadora e ainda mais corajosa mãe solteira. Mas ela (é isso o que mais nos interessa) é um cruzamento de vidas vividas, memória vivente de muitos personagens famosos, que já não existem mais. A sua história vai da tia Gabriella Besanzoni, que antes da Segunda Guerra Mundial foi a melhor contralto do mundo, inesquecível na Carmen de Bizet, ao tio Henrique Lage, grande industrial brasileiro, idealizador daquela ”villa italiana” no Parque Lage do Rio, que se tornou a moradia de Marina. E inclui o bonito irmão Arduino, pioneiro dos surfistas das praias cariocas, “sex simbol” em cerca de quarenta filmes do “Cinema Novo”, que se casou cinco vezes e teve uma infinidade de casos amorosos (um deles com Sonia Braga); além de seu pai Manfredo, “amante das guerras”, que, já idoso, tornou-se ator da Globo e da Bandeirantes. Que vidas interessantes tiveram os parentes da autora de “Passageira em Transito”! Quase como a dela própria: sempre agitada, ativa e incansável viajante pelo planeta, não obstante tenha o mais pacífico dos maridos no poeta Affonso Romano de Sant’Anna.
“Nunca consegui voltar à Asmara, a cidade onde nasci – Marina recebe a equipe dos ”100 Nonni” em sua esplêndida cobertura de Rua Nascimento Silva, em Ipanema, a mesma onde morou, no número 107, um jovem Tom Jobim – Escrevi um livro de memórias dos primeiros dez anos de minha vida porque queria falar da guerra vista de dentro. Então desejava ir para a Eritreia, mas não existe nenhuma representação diplomática deste país africano no Brasil. Disseram-me que deveria mandar o passaporte pelo correio a Washington, porém era um risco grande demais que eu não poderia correr”. Marina nasceu na cidade que naquele tempo era a capital da colônia africana da Itália fascista, no dia 26 de setembro de 1937. Lá viveu apenas um ano e poucos meses, transferindo-se logo em Trípoli de Líbia, outra colônia do efêmero “Império” italiano. Na Líbia morou até a declaração de guerra de 1940. “Fugimos para a Itália com mamãe Elisa: meu pai Manfredo quis ficar. Ultimamente, depois da época de Gaddafi, teria sido possível ir a Trípoli para concluir o meu livro, mas me informaram que poderia viajar somente ao longo de um percurso autorizado. Não sou um tipo adequado para estas limitações. Sou da Libra como signo zodiacal: os freios não combinam comigo! E assim também não voltei a Trípoli”.
O pai de Marina era filho de Arduino Colasanti (sênior), diretor geral de Belas Artes e grande crítico de arte na época de Mussolini. Manfredo trabalhava na Confindustria (a federação dos industriais italianos). “Adorava a guerra. Era um irredentista. Aos 16 anos fugiu de casa para ir a Fiume (Rijeka) com Gabriele D’Annunzio que em 1919 ocupou aquele enclave sérvio de maioria italiana. Tenho cartas que falam dele, escritas pelo ‘Vate’, pelo escritor de ”Il Piacere”, endereçadas ao meu avô. Mais tarde foi voluntário nas expedições de conquista na África. Ele ficou contagiado decididamente com a ”doença da África”: gostava imensamente daquele continente. Foi lá combater duas vezes e na segunda, já que não havia mais lugar para os oficiais, se rebaixou a soldado simples: o importante era partir para a Etiópia. Quando teve que abandonar a Líbia durante a guerra mundial foi uma derrota desastrosa para ele. Na Itália não ficávamos um ano parados no mesmo lugar. Íamos cada vez mais ao norte, seguindo a República fascista de Saló que se retirava, enquanto os Aliados avançavam ao longo da península. No 25 de abril de 1945, último dia da guerra, estávamos quase na Suíça, em Albavilla, perto de Como. Eu tinha sete anos, não tinha amigos, nem bonecas, nem brinquedos. Fugíamos sempre de um lugar para outro. Eram tempos duríssimos: o brilhante da mamãe estava costurado dentro da bainha da saia”.
O pai dela substituiu, em seu amor pelo exótico, a África com o Brasil. Na terra do samba já tinha estado duas vezes. A longa, fascinante história remonta aos anos ’20 do século passado, quando Gabriella Besanzoni, tia de Manfredo, grandíssima cantante lírica, fazia a rota da América do Sul com o grupo de Enrico Caruso. Do Teatro Colón de Buenos Aires iam até o Solis de Montevideo, a São Paulo, a Rio, a Belém, e subiam até a Cidade do México. Durante uma destas turnês, um armador brasileiro, um homem refinadíssimo que tinha estudado na Inglaterra, enamorado da música, se apaixonou perdidamente por ela e a pediu em casamento. Era Henrique Lage, que, começando pela frota da Companhia Costeira, construiu um império industrial que incluía as mais diferentes atividades, desde portos futuristas em Santa Catarina até as primeiras produções aeronáuticas brasileiras. Teve que voltar a toda pressa de Londres para tomar conta dos negócios de família: o pai dele falecera repentinamente, bem como dois irmãos, mortos de gripe espanhola no mesmo dia.
“Gabriella recusou o pedido porque estava no topo do mundo musical e queria continuar cantando. Ele, porém, a cada viagem da companhia lírica, novamente a pedia em casamento. Na terceira vez ela pensou que talvez estivesse errando, e muito, em não aceitar: assim casaram. Era o ano 1925. Para as bodas vieram ao Brasil o meu avô com a vovó e os dois filhos: Arduino era o irmão favorito de Gabriella, que pediu que fosse também o padrinho da cerimonia. Meu pai, mais tarde, voltou uma segunda vez ao Brasil para ficar um ano com a tia nesta cidade maravilhosa, que naquele período era bem mais agradável que agora”. Eram os anos ’30. A família Lage vivia em quatro ou cinco ilhas da Baia de Guanabara. As principais eram a Ilha Viana na qual construíam os navios, e a Ilha de Santa Cruz, onde moravam. Hoje estão no terminal da ponte que corta a baia pelo meio, quase na costa de Niterói. Havia uma belíssima vila e atrás uma fileira de cômodos “cottages” que os Lage tinham construído para os comandantes que provinham, na maioria, da Irlanda: ótimos marinheiros. Eram Primeiros Oficiais dos famosos Ita (todos eles se chamavam Itararé, Itanhangá…: de ita, pedra em língua Tupi), navios de média tonelagem que faziam cabotagem de passageiros e mercadorias do nordeste e do sul do país até a capital. Eram tão populares que existe até uma célebre canção: “Peguei um Ita no norte e vim pra o Rio morar…”.
“Assim, depois do fim da guerra, meu pai decidiu que iríamos morar no Brasil – Marina mostra aos 100 Nonni numerosas fotos daqueles anos. – Ele foi sozinho, com um navio, desde Genova. Nós o seguimos dois anos depois com um Constellation da Panair do Brasil. Partimos de Roma Ciampino, que era ainda um aeroporto militar, com a pista não asfaltada, mas com aquelas placas de alumínio cimentado que os americanos usavam para fazer rapidamente os aeroportos durante a guerra. Chegamos ao Rio depois de uma viagem interminável e fomos viver no Parque Lage. Era o mês de maio de 1948”. Aquela mansão de estilo italiano, “fajuto, confuso, mas italianíssimo”, ao lado do Jardim Botânico do Rio, com uma fabulosa piscina, e circundada por uma exuberante Mata Atlântica em direção às primeiras rochas do Corcovado lá em cima, foi um presente de Henrique à sua amada Gabriella. Ela não cantava mais, porém, de acordo com o marido, tornou o Parque Lage na mais extraordinária escola de canto da América Latina. Criou um grupo que se chamava “Opera Brasil” que levaria o bel canto para o norte e para o sul do país com o apoio da Companhia Costeira. Começou a fabricar, do nada, cantores líricos brasileiros, garimpando talentos em todas as partes da nação, oferecendo bolsas de estudo, e fazendo preparar refeições para todos em um restaurante montado sob a casa. Tinha a seu dispor três ou quatro pianos de cauda. Era extremamente feliz! “Mas como sempre, a alegria tem as pernas curtas. O Tio Enrico, como o chamávamos quando vinha na Itália com Gabriella, contraiu problemas de coração e erisipela, naquele tempo uma doença mortal. Morreu aos sessenta anos, no início da Segunda Guerra Mundial. O sonho acabou”.
Quando Manfredo chegou no Brasil em 1946 foi trabalhar em uma empresa de construções que Henrique Lage tinha deixado. Em breve mudaram do Parque Lage para um apartamento no Leblon. “Naquele tempo o bairro do Leblon estava cheio de terrenos vazios, entre edifícios espalhados, de três ou máximo quatro andares. Ao lado da casa havia um prado onde ia colher margaridas para a mamãe. Meu pai nos buscava de manhã cedo com seu velho Ford preto e nos levava ao Arpoador. Para nós, acostumados com as praias de seixos do Mar Tirreno, era incrível pisar naquele talco de areia. Ficávamos boquiabertos”. Gabriella fez, com a mãe de Marina, uma estranha viagem a New York, de até um ano, com a desculpa de ir controlar o dinheiro de suas gravações discográficas. Na realidade as coisas entre Manfredo e Elisa não estavam indo bem. Em 1951 se separaram, e Elisa voltou para a Itália com Marina, enquanto Arduino restava com o pai no Brasil. “Eu tinha 14 anos. Tudo tomou um rumo trágico. A família de minha mãe, os Del Bono de Parma, estava literalmente desmanchada. A vovó tinha morrido durante a epidemia de gripe espanhola que matou no mundo mais de 50 milhões de pessoas, o vovô faltou antes ainda, e duas irmãs morreram vítimas de tumor. Não tinha ficado ninguém. A mamãe também adoeceu de câncer e decidiu voltar para o Brasil. Não tinha nem 40 anos. Morreu em 1953 apesar de diversas operações revolucionárias nos Estados Unidos que não serviram para nada”. Gabriella Besanzoni casou novamente com Michele Lillo, um oficial da receita italiana, e voltou para a Itália. Vendeu tudo o que tinha herdado de Henrique Lage no Brasil. E era muito!
Como liquidação o pai de Marina recebeu uma grande fazenda em Angra dos Reis. Chamava-se Pedra Branca e pertencia a um conjunto de terrenos dos Lage chamado Ariro’. Trabalhar como fazendeiro não era sua praia, mas se empenhava, e por isso não ficava quase nunca no Rio com seus dois filhos. “Eu e Arduino morávamos novamente no Parque Lage. A mansão, porém, estava vazia. Era estranho viver sozinhos, com um casal de pessoas para o serviço, naquele palacete gigantesco. Meu irmão não tinha superado um exame de admissão à Universidade e estava estudando num curso noturno. Eu morria de medo. Meu pai me deu um revolver de presente. Fiquei ali até os 19 anos, enquanto cursava a Universidade de Belas Artes. Aí a tia Gabriella vendeu a mansão a Roberto Marinho, que já era guru da Tv Globo. A Besanzoni morreu em Roma, sempre por problemas de coração, em 1962. Nós fomos viver em Ipanema. Arduino começou a surfar com grandes pranchas de madeira. Mas depois se aplicou, e passando pelo isopor, chegou a fabricar as primeiras pranchas de resina de vidro do Brasil. Ele morreu em fevereiro de dois anos atrás, mas era um homem bonito de doer. Teve muito sucesso com os filmes que fazia, porque naquele tempo no Brasil não havia louros: tinha o fascínio da raridade. Ele me levou a fazer pesca subaquática em apneia. Eu morria de pavor e de frio, mas era orgulhosa de ser provavelmente a única mulher sub do Brasil”. Certa vez em que Arduino estava empenhado no set de um filme em Angra dos Reis, apresentou o pai dele, Manfredo, ao regista Nelson Pereira dos Santos. Eles simpatizaram muito e assim, com mais de 65 anos, a vida deu uma virada: começou a carreira de ator, atuando imediatamente no filme “Fome de amor”, e participando depois de uns vinte filmes e telenovelas da Tv Globo e da Bandeirantes. “Ele tinha contraído muitas dívidas. Eu repetia que não vendesse a fazenda antes que chegasse a estrada, porque aí valeria o dobro. Palavras inúteis. Jogou fora tudo, herança, quadros, tapetes, joias… mas viveu magnificamente”. Morreu no Rio em 1983: dormindo. Tinha 82 anos.
Marina iniciou sua carreira artística fazendo gravuras em metal. Não vendia quase nada, mas, contudo, não gostava de depender do pai por qualquer par de sapatos necessitasse. Queria ser independente, e começou a procurar trabalho. Alguns amigos jornalistas, o grande Millôr Fernandes e Yllen Kerr (lenda do surf, embora nunca tenha surfado: foi o primeiro presidente da Federação Carioca de Surf), a levaram um dia ao Jornal do Brasil. “Eu escrevia bem porque tinha lido muito. Quando durante a guerra morávamos em Como, nossos pais foram na livraria e nos compraram a coleção “Scala d’Oro” da UTET. Era dividida em oito fases, dos 6 aos 13 anos. Eles se enganaram e compraram aquela dedicada aos 13 anos: eu ainda não tinha 7 anos! Louvado seja o Senhor por aquele erro. Chegou na minha cabeça um tsunami literário que certamente mudou minha vida. A gente leu Edgar Allan Poe, Miguel Cervantes, Alexandre Dumas, Leone Tolstoy, Victor Hugo, a Ilíada, a Odisseia… Éramos íntimos de Ulisses. A literatura universal caiu no nosso colo. Uma emoção que nunca se repetiu com tamanha intensidade. Não conhecíamos ninguém e ficávamos grudados nos livros o dia inteiro. Não tínhamos mais nada para fazer. Quando nos cansávamos de ler brincávamos de inventar histórias baseadas nos textos de Emilio Salgari. Éramos piratas, índios….tenho até um nome de squaw: era Sol Risonho! Manfredo continuou também no Rio a comprar livros em francês, na Maison de France ou na livraria do Copacabana Palace. “Tudo isto foi muito útil para entrar no jornal. Era o ano 1962. Comecei como repórter, mas depois de dois meses me colocaram na redação porque eu tinha ótima escrita. Comecei no Caderno B, a página cultural: o lugar mais desejado do JB – Marina ri quando fala das suas primeiras experiências no jornalismo – O Chefe redator era Claudio Mello Souza. Havia uma pilha de revistas italianas, Epoca, L’Europeo, amontoadas em um canto. Me disse: “já que você fala italiano, tem muitos artigos interessantes de uma tal de Oriana Fallaci. Reescreve em português, reduza-os, que os publicaremos”. Isto não se pode fazer no jornalismo. E’ completamente antiético. Mas eu não o sabia e durante meses continuei escrevendo textos belíssimos, que não eram meus, mas da Fallaci”. Tudo ia muito bem, mas de repente aconteceu o golpe militar de ’64. “Naquele dia fui ao jornal para defendê-lo, levando na bolsa a Beretta 22 que meu pai havia me dado: ato temerário e juvenil! As tropas entraram, mas a proprietária do JB, a condessa Pereira Carneiro, encantadora, gorducha, sempre com colares de pérolas no pescoço, desceu na redação e disse que podíamos voltar tranquilos para casa: o jornal não seria fechado! Eram tempos em que era preciso ter muita coragem. Muitos perdiam a vida. Eu tinha recebido em herança uma parte das fabulosas joias da tia Gabriella. Decidi que serviriam para um propósito maior: um filho para amar que morasse na minha vida. E parei de me proteger. Com um gesto seríssimo e maduro, resolvi que seria mãe solteira. Os colegas do jornal estiveram muito perto de mim. Não era fácil! Mas assim, em 1965, nasceu Fabiana. O meu primeiro livro foi publicado dois anos mais tarde. Tem um título revelador: ‘Eu sozinha”.
Na deliciosa casa da Avenida Rio Branco, que funcionava como sede do JB, conheceu Affonso Romano de Sant’Anna, um poeta, professor de literatura, que sempre fora jornalista. Era amigo de Fernando Gabeira. Eram da mesma cidade, Juiz de Fora, e tinha conseguido fazer com que ele entrasse no jornal como chefe do departamento de pesquisa. “Quando Affonso voltou depois de uma bolsa de estudo de um ano nos Estados Unidos, começamos a conversar se devíamos ou não visitar Gabeira, que estava na cadeia pelo sequestro do embaixador americano Charles Elbrick. Ainda estamos conversando agora. Casamos em 1971. Temos outra filha que se chama Alessandra”. No JB Marina começou a ocupar-se de literatura para crianças. “Ana Arruda Callado, que mais tarde foi a primeira brasileira na direção de uma redação de jornal, cuidava o Caderno I, dedicado aos pequenos. Foi presa porque fazia parte da resistência e me pediu para substitui-la até que fosse libertada. Eu mantinha o meu trabalho no Caderno B, e não queria mudar nada para que, ao seu retorno, ela encontrasse tudo como o havia deixado. Comecei portanto a reescrever uma fábula famosa para preencher a rubrica. Fiquei pasma quando vi diante de mim uma ‘Bela Adormecida’ totalmente mudada, completamente alterada, mas encantadora como a original. Levei cinco anos para que o meu primeiro livro de fábulas fosse publicado. Porém, mais tarde ,ele recebeu uma carrada de prêmios”. Em 1973 Marina passou à Editora Abril de Victor Civita e lá permaneceu por 18 anos como redatora de “behavior” na revista Nova, trabalhando contemporaneamente, durante 8 anos, como criativa em uma agência de publicidade. “Eram os anos do feminismo e era preciso ter muito cuidado com o que se escrevia. Montei uma pequena biblioteca sobre o argumento e daquele trabalho extraí quatro livros, mais um ensaio sobre o amor. Hoje tenho um total de 58 livros publicados”.
Marina Colasanti conheceu muito bem Clarice Lispector, a cujo respeito escreveu um livro em conjunto com o marido, e Carlos Drummond de Andrade, “um homem reservado, com uma alma muito fechada”. Evita ir ao Parque Lage, se puder: mármores vindos da Itália foram arrebentados, roubaram a pia da suíte da tia que era magnífica, toda em mármore vermelho. Desapareceram armários de madeira entalhada que serviam como guarda-roupa. “Sinto muita falta da Itália, ainda que me sinta brasileira em muitas coisas. Sou, antes de tudo, uma escritora brasileira. É uma pena que, embora o Brasil seja um país muito italiano, não interesse muito à Itália. Dos meus trabalhos traduziram uma fábula, revista por Luciana Stegagno Picchio e publicada por Mondadori. Estou orgulhosa por ter traduzido para o português muitas obras italianas, Moravia, o Leopardo de Tomasi di Lampedusa, Pinoquio de Collodi… Infelizmente perdi pelo caminho a cidadania italiana, porque para ser jornalista era obrigatório que me naturalizasse brasileira. Agora a lei me permitiria recuperá-la, mas o meu atestado de nascimento em Asmara não pode ser encontrado. Tenho o meu primeiro passaporte italiano: mas dizem que não basta. Para a Itália sou quase um fantasma: será que posso recuperar minha cidadania com o nome de Sol Risonho?”.